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segunda-feira, 5 de novembro de 2018

SINCERIDADE E ARREPENDIMENTO DIANTE DE DEUS




Orgulho e arrogância são pecados perante Deus. 



Por: Edilson Moraes


A parábola do fariseu e do publicano mostra que a dependência humilde diante de Deus, em vez de justiça própria, é a base para a resposta da oração. "Quando oramos a Deus, devemos confiar em quem Ele é, e não em quem nós somos. Os dois comportamentos distintos aqui tratados revelam a forma ideal pela qual devemos nos apresentar a Deus. Ao passo que nos quebrantamos em sua presença, reconhecemos nossa pequenez e carência de sua graça operando em nós. 

INTERPRETAÇÃO DA PARÁBOLA DO FARISEU E DO PUBLICANO

Na Parábola do juiz iníquo fomos ensinados a respeito da necessidade e o poder da oração perseverante. Agora, Jesus conta essa parábola com o objetivo de ensinar a atitude correta.

"Os fariseus, ou perushim, isto é, do 'hebraico parash, separar, interpretar', expressão que literalmente significa 'separar ou separadores' e pode ser entendida, como 'intérpretes ou comentadores'. "Eles observavam as práticas de forma minuciosa, contudo, esqueciam do espírito da lei(...)". "(...)eram a mais rígida, mais conservadora e mais legalista de todas as facções dos judeus". 

O problema é que não discerniam bem as coisas, causando transtornos para si e para terceiros, ao passo que viviam uma fé apenas aparente e não na essência. "E assim invalidais, pela vossa tradição, o mandamento de Deus" Mt 15.1,2. Por várias vezes eles colocaram suas tradições em nível superior à Lei, a qual tanto se gabavam de guardar. Aqui, reclamam dos discípulos pelo fato de não lavarem as mãos antes das refeições.

No mesmo instante são repreendidos por Jesus, ao mostrar-lhes que estavam valorizando mais a "tradição dos antigos", criada por eles mesmos ao passo que invalidavam a Lei de Moisés, a qual deveriam de fato seguir. O Mestre usou contra eles o costume que tinham, de desprezar os pais. Ou seja, pela tradição, eles poderiam "consagrar" ao "Senhor", os benefícios que deveriam destinar aos pais (Mc 7.3,4). Na prática, estavam cometendo pelos menos dois erros crassos: excesso/radicalismo e desobediência. Em momento algum Deus mandou desprezar os pais. Contrariando o que dizem em suas práticas farisaicas, a Bíblia manda honrar os pais. 

Outra controvérsia da armadilha farisaica que levou Jesus a dar-lhes um chega para lá, trata dos dízimos. Ora, eles eram extremamente zelosos em relação ao assunto. A fidelidade na entrega dos dízimos é bíblica e é um dos deveres do servo de Deus. No entanto, haviam alguns problemas na forma como eles dizimavam. Primeiro, usavam a prática dos dízimos para de certa forma se justificar diante de Deus. Em sua oração hipócrita, dizia o fariseu de Lucas 18: "dou os dízimos de tudo quanto tenho". Estava na subconsciência o entendimento de que o fato de ser excessivamente fiel nos dízimos o tornava mais justo que as demais pessoas. Segundo, se por lado atendiam rigorosamente a lei, ao dizimar, por outro, a rejeitavam quando não exerciam por exemplo, a justiça e misericórdia. Ao condenar a hipocrisia dos fariseus, Jesus adverte "...deveis, porém, fazer essas coisas e não omitir aquelas" (Mt 23.23). Ou seja, o Senhor é enfático ao afirmar que a fidelidade na entrega dos dízimos é "dever", assim como o é, o exercício da justiça, da misericórdia e da fé. Uma coisa não pode anular a outra. Assim é a Lei dada por Moisés. Assim é a graça dada por Cristo. 

Os publicanos "Eram cobradores de impostos que trabalhavam para os romanos". Naqueles dias, os judeus estavam sob o domínio de Roma. Excetuando-se alguns dos Sacerdotes e Sumo Sacerdotes que de alguma maneira mantinham certa influência no governo, na maioria das vezes até tirando proveito disso, o povo em geral, do ponto de vista político vivia sob constante opressão.

Se, para o judeu, pagar impostos a Roma já era um ultraje, pior ainda quando se tratava dos casos de extorsão cometidos rotineiramente pelos publicanos, que na prática, eram também judeus. Isso fez com que o publicano se tornasse
persona non grata entre seus compatriotas. "Eram julgados como pessoas de vil caráter, porque alguns acabavam também extorquindo grandes quantias de dinheiro do seu próprio povo". "(...)nos aspectos religioso e moral reinava no judaísmo daquela época uma grande distância entre essas duas classes do povo".

Se por uma lado os publicanos eram roubadores, por outro, os fariseus eram hipócritas, pois em nome de uma religiosidade frágil e vazia de amor, cometiam atrocidades tão imorais quanto a traição e o roubo dos publicanos.

Mas, ao utilizar na parábola a imagem deste personagem tão odiado, quer o Senhor mostrar que existe salvação para todos (até mesmo para o fariseu), não importando seus pecados cometidos. Basta tão somente se arrepender e receber a Cristo como seu salvador pessoal (Lc 3.12,13). 

Quando há arrependimento, o perdão chega à alma do homem, ainda que este seja o mais indigno de todos. Certo dia Zaqueu, chefe dos publicanos, teve um encontro com Jesus. Reconheceu que ara pecador e necessitava de salvação. Ao aceitar a Cristo, se comprometeu a doar aos pobres a metade dos seus bens e devolver quadruplicado tudo o que possivelmente houvera extorquido de seus irmãos (Lc 19.8). Diante disso, proclamou Jesus "Hoje veio a salvação a esta casa, pois também este é filho de Abraão".

A HIPOCRISIA DO FARISEU



"Fariseu é o nome dado a um grupo de judeus devotos à Torá, surgidos no século II a.C.. Opositores dos saduceus, criam numa Lei Oral, em conjunto com a Lei escrita, e foram os criadores da instituição da sinagoga. Com a destruição de Jerusalém em 70 d.C. e a queda do poder dos saduceus, cresceu sua influência dentro da comunidade judaica e se tornaram os precursores do judaísmo rabínico. A palavra Fariseu tem o significado de "separados", "a verdadeira comunidade de Israel", "santos". Sua oposição ferrenha ao Cristianismo rendeu-lhes através dos tempos uma figura de fanáticos e hipócritas que apenas manipulam as leis para seu interesse. Esse comportamento deu origem à ofensa "fariseu", comumente dado às pessoas dentro e fora do Cristianismo, que são julgados como religiosos aparentes".

Isso se deu por terem Trocado a Lei escrita pela lei moral, chamada também de "tradição dos anciãos".  "(...)os fariseus, assim como os inimigos dos antigos profetas, tratavam a Lei do Antigo Testamento como irrelevante e insignificante e, portanto, substituíram a Lei de Deus por um padrão moral novo. Em vez de refletir e meditar na Lei de Deus pra compreender e extrair as reais implicações do que ela diz, os escribas e fariseus estavam continuamente buscando meios de anular a obrigação de cumpri-la. Eram reconhecidos como os grandes mestres da Lei em Israel. Mas na realidade eram os grandes transgressores."

Por serem moralistas, julgavam ser necessário viver um padrão moral elevado, mesmo que isso implicasse em desobedecer a Lei dada por Moisés. Em outros termos, passavam uma imagem de justos e santos, mas faltava-lhes a essência da Palavra de Deus.

Outro sério problema dos fariseus era o legalismo. "A lei detalhava cerimônias para se lavar em várias ocasiões, mas o jantar não era uma delas. Eles nem mesmo fingiam se tratar de um problema bíblico, ao invés disso perguntavam porque os discípulos quebravam “a tradição dos anciãos”. A elevação da tradição humana – que Isaías chamou de “mandamentos do homem” – para o nível de lei Divina é legalismo. Não é surpresa que aqueles que veem a moralidade pessoal como necessário à salvação rapidamente multiplicam os regulamentos da lei". O que ocorre na prática é que o legalismo farisaico representa um peso insuportável no qual segundo Jesus afirmara em dado momento, "nem vós mesmos podeis carregar".

Como se não bastasse, os fariseus ainda eram
 antinomistas. Isto porque deixavam de cumprir a Lei, como assertivamente o Senhor exigia. Embora se apresentassem como os verdadeiros guardiões da lei, cumpriam em partes o que lhes era conveniente, ao passo que "reescreviam" aquelas que julgavam sem valor algum, contrariando os mandamentos. Haja vista que o descumprimento de apenas um dos mandamentos anula a todos os demais. Senão, vejamos o que disse Jesus ao tratar disso: “Por que transgredis vós, também, o mandamento de Deus pela vossa tradição?”.   


Em relação a postura do fariseu na hora da oração, "Ele postou-se de maneira que chamava a atenção e atraía sobre si todos os olhares dos presentes". Nota-se que ambos estão no mesmo recinto. Porém, aparentemente distantes um do outro. Ao deixar de ver suas próprias falhas, corrigindo-as com coração puro, perde este a oportunidade de ser agraciado pelo perdão do Senhor. 

A maneira como se apresenta, demonstra que "O fariseu era justo aos seus próprios olhos. A pessoa que pensa ser justa por causa dos seus próprios esforços não tem consciência da sua própria natureza pecaminosa, da sua indignidade e da sua permanente necessidade da ajuda, misericórdia e graça de Deus" (Nota: Lc 18.11 - BEP). 

Além do mais, oravam "(...)para serem vistos pelos homens" (Nota: Mt.6.1,5 - BEP). "Se o crente, seja leigo ou ministro, faz o bem para ser admirado pelos homens, ou por motivos egoístas, perderá seu galardão e louvor, da parte de Deus. Em vez disso será desmascarado como hipócrita, porque, sob o disfarce de glorificar a Deus, o que ele realmente buscava era glória para si mesmo". 

Na vida cristã, quando nos ocupamos em corrigir nossas próprias falhas e pecados, não sobra tempo nem inspiração para enxergarmos os erros alheios.

A SINCERIDADE DO PUBLICANO



Diferentemente do fariseu, a oração do publicano "É a oração do pobre que confia totalmente em Deus". A autossuficiência e arrogância são males cada vez mais presente em nossa sociedade. Davi, considerado "homem segundo o coração de Deus", cometeu adultério, mas se humilhou e alcançou o perdão celestial. Ao escrever o Salmo 51 mostra como deve se portar o crente diante do criador, em reconhecimento de seus pecados "(...) meu pecado está sempre diante de mim" (Sl 51.3).

No caso do publicano, este em sinal de sinceridade e profundo arrependimento "Batia no peito". "O termo grego utilizado é uma expressão forte e definida para uma contrição dolorosa e arrependida" (Lc 23.48).

Do ponto de vista teológico, "arrependimento [Do lat. repoenitere, arrepender-se] Compunção, contrição. Tristeza causada pela violação das leis divinas, pela qual o indivíduo é constrangido a voltar-se a Deus para implorar-lhe o imerecido favor. (...)Encerra a ideia de 'voltar-se para longe de, ou em direção de" (ANDRADE, 1996, p. 39).

Aquele homem da parábola estava completamente quebrantado e necessitado do perdão de Deus em sua vida. Ele não se envergonhou ao se expor, sobretudo diante de um fariseu, mesmo sabendo qual seria a reação daquele que de longe o observava, acusando-o. Lembremos que os fariseus arrolavam os publicanos na mesma lista de pecadores e ladrões. 

Entre as duas orações feitas, é "...aceita é a do publicano. Ela vem permeada de sinceridade e arrependimento diante de Deus. 

Falando ainda sobre a oração do publicano, este demonstrou sincero arrependimento de seus pecados. De acordo com a Bíblia de Estudo Pentecostal, este homem estava "(...) profundamente consciente do seu pecado e culpa e, verdadeiramente arrependido, voltou-se do pecado para Deus, suplicando perdão e misericórdia. Tipifica o verdadeiro filho de Deus" (Nota: Mt 18.9-14). 

Por essa razão, nos termos postos por Jesus, o publicano "desceu justificado para sua casa". Ao tratar a respeito da doutrina da justificação, PEARLMAN (1996, p. 149) a descreve com os seguintes aspectos: 

a) em relação a sua natureza. Trata da absolvição divina. "Justificar" é termo judicial que significa absolver, declarar justo, ou pronunciar sentença de aceitação. A ilustração procede das relações legais. O réu está perante Deus, o justo Juiz; mas, ao invés de receber sentença condenatória, ele recebe a sentença de absolvição.   

b) sua necessidade. Remete à condenação do homem. Ao perguntar "Que é necessário que eu faça para me salvar?", o carcereiro coloca-se em posição de reconhecimento da necessidade de ser justificado, tendo em vista que por si só, seria impossível. A Bíblia diz que "todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus".  

c) fonte. A graça de Deus. A salvação é sempre apresentada como dom, um favor não merecido, impossível de ser recompensado; é um benefício legítimo de Deus (Rm 6.23). O serviço cristão portanto, não é pagamento pela graça de Deus; é um meio que o crente aproveita para expressar sua devoção a Deus. "Nós o amamos porque Ele primeiramente nos amou". 

d) fundamento. A justiça de Cristo. Essa justiça foi comprada pela morte expiatória de Cristo. Sua morte foi um ato perfeito de justiça, porque satisfez a lei de Deus. Foi também um ato perfeito de obediência. Tudo isso foi feito por nós e posto a nosso crédito. O ato pelo qual Deus credita essa justiça à nossa conta chama-se imputação, que é levar à conta de alguém as consequências do ato de outrem. As consequências do pecado homem foram levadas à conta de Cristo, e as consequências da obediência de Cristo foram levadas à conta do crente.

d) meios. Fé e obras. A fé se aperfeiçoa pelas obras, assim como a flor se completa ao desabrochar. Em breves palavras, as obras são o resultado da fé, a prova da fé, e a consumação da fé.         

Logo, "O justo deve viver sempre pela fé, e, assim fazendo, continua a viver uma vida espiritualmente cada vez mais rica" (Rm 1.17), com obras que atestem seu viver em Cristo. 

Finalmente, a parábola é um indicativo de que Deus se agrada do coração arrependido e sincero. Assim, pode o pecador alcançar o perdão de todos os seus pecados por intermédio de Jesus Cristo, conquistando a Paz e alegria eterna que somente pode conceder ao que busca. Deus está sempre pronto a perdoar. "...a um coração quebrantado e contrito não desprezarás, ó Deus" (Sl 51.17.



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Referências:

Andrade, Claudionor C. Dicionário teológico. Rio de Janeiro: CPAD, 1998.

BÍBLIA DE ESTUDO PENTECOSTAL - Editora CPAD 1995.

BRITO, Frank. "A essência do farisaísmo". Resistireconstruir. Disponível em: <ttps://resistireconstruir.wordpress.com/2012/08/09/a-essencia-do-farisaismo/>. Acesso: 08/11/2018.

CHANTRY, Tom. "Identificando verdadeiros fariseus". Reforma21. Disponível em: <http://reforma21.org/artigos/identificando-verdadeiros-fariseus.html>. Acesso: 08/11/2018.

educalingo. "O que significa farisaísmo em português". Disponível em <https://educalingo.com/pt/dic-pt/farisaismo>. Acesso em: 08 de novembro de 2018.

Lições Bíblicas - nº 06, 4º Trimestre 2018, CPAD.

PFEIFFER, Charles F; Vos, Howard F; Rea, John. Dicionário Bíblico Wycliffe. Rio de Janeiro: CPAD, 2010.

PEARLMAN, Myer. Livramento do pecado. In: Conhecendo as doutrinas da Bíblia. São Paulo: Editora Vida, 1996.


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Gostaria de fazer a referência deste texto em um trabalho escolar ou acadêmico? Veja a dica:


SANTOS, Edilson Moraes. "Sinceridade e arrependimento diante de  Deus"; Filadelfia21. Disponível em:<https://filadelfia21.blogspot.com/2018/11/sinceridade-e-arrependimento-diante-de.html> Acesso em: (?).





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