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quarta-feira, 24 de outubro de 2018

PERSEVERANDO NA FÉ

Quanto mais perseverarmos na fé, melhor entenderemos a vontade de Deus.



Por: Edilson Moraes 





INTERPRETANDO A PARÁBOLA DO JUIZ INÍQUO 

Talvez o que pareça ser mais difícil nesta parábola em termos de interpretação, seja o fato de que ela trata da perseverança na oração, usando as figuras  da viúva e de um juiz iníquo. A comparação não indica que Deus seja injusto. Mas, destaca o fato de que pela insistência da mulher, mesmo que aquele homem não temia a Deus, atendeu o seu pedido, fazendo-lhe justiça. 

Segundo Tadeu, "Tudo indica que na estrutura jurídica do judaísmo antigo existiam dois sistemas de tribunais: o judaico e gentílico". Provavelmente esse fato histórico/cultural possa nos ajudar a compreender o uso por parte do Senhor, da imagem desse juiz na parábola.

A viuvez nos tempos bíblicos representava elevado grau de vulnerabilidade. Morrendo o marido, ficava a mulher exposta a uma série de males principalmente social, tendo em vista que não havia naquele tempo a proteção do Estado como ocorre hoje.

Daí o desespero das viúvas como visto nos casos de Noemi, que dependeu de Rute para sobreviver; A viúva de Sarepta que precisou da intervenção do profeta para não morrer de fome com seu filho; outra viúva esteve prestes a ter seus filhos levados como escravos, para pagar a dívida deixada pelo falecido; Gênesis relata um caso raro de duplicada viuvez. Tamar viuvou de dois filhos de Judá, mas teve que usar uma estratégia para fazer Judá cumprir sua promessa de que ela seria desposada por "Selá" (Gn 38.14,19).

Não por acaso, o código mosaico traz ordenanças específicas sobre o cuidado e proteção às viúvas. Segundo o Wycliffe, "Sob a lei mosaica, o cuidado para com a viúva era considerado uma responsabilidade dos parentes e era um dos deveres do filho mais velho, que recebia a primogenitura".

Porém, o ponto alto da parábola não é fazer longa descrição sobre a questão da viuvez, embora neste momento seja interessante tratar do assunto, apenas para a contextualização e melhor compreensão do assunto. Na verdade, todo o enredo tem como objetivo tratar da importância da perseverança na oração.

De acordo com a Bíblia de Estudo Pentecostal, em nota de rodapé relacionada a Lucas
18.1, desta parábola aprendemos que:

(1) Os crentes devem perseverar em oração em todo tempo, até a volta de Jesus. Em Rm 12.12 Paulo nos manda "servir ao Senhor e perseverar em oração"; Em Ef 6.18 devemos tomar "...o capacete da salvação e a espada do Espírito, que é a palavra de Deus, orando em todo tempo com toda oração e súplica no Espírito..."; Aos tessalonicenses, manda "Orar sem cessar" 1 Ts 5.17).

(2) Nesta vida, temos um adversário que é satanás (1 Pe 5.8). A oração pode nos proteger do maligno (Mt 6.13). Através da nossa fé no sangue de Cristo, da nossa luta espiritual no Espírito, e nossas orações a Deus estamos plenamente equipados para derrotar suas astutas ciladas, resistir-lhe e ficar firmes na fé.

(3) Através da oração, os filhos de Deus devem clamar-lhe contra o pecado e por justiça (v. 7). Os verdadeiros escolhidos de Deus nunca cessarão de clamar a Deus pela volta de Cristo à terra, a fim de destruir o poder de satanás e o presente sistema iníquo deste mundo. Perseverarão na oração, para o Senhor "...depressa fazer justiça" e para Cristo reinar em justiça, sabendo que a sua segunda vinda é a única esperança veraz para este mundo.

(4) A oração perseverante é considerada como fé (v. 8). "Quando, porém, vier o Filho do Homem, porventura, achará fé na terra?" Esta pergunta de Jesus, provavelmente, indica que à medida que se aproxima a volta de Cristo, o mal se tornará cada vez pior, de modo que muitos da igreja se apartarão da fé em Cristo (Mt 24.11-13, 24).

(5) Nos últimos dias antes da volta de Cristo haverá um aumento de oposição diabólica às orações dos fiéis. "Mas o Espírito expressamente diz que, nos últimos tempos, apostatarão alguns da fé, dando ouvidos a espíritos enganadores e a doutrinas de demônios..." (1 Tm 4.1).

Por causa de satanás e dos prazeres do mundo, muitos deixarão de ter uma vida de perseverante oração. Na parábola do semeador, os espinhos (cuidados, riquezas e deleites) sufocaram a Palavra na vida do crente, impedindo-lhe o crescimento e frutos.
  

 A BONDADE DE UM DEUS JUSTO

"Pedi, e dar-se-vos-á; buscai e encontrareis; batei e abrir-se-vos-á" (Mt 7.7). O texto lança luz ao fato de que Deus atende ao clamor dos fiéis, em razão da sua grande bondade, misericórdia e graça. 

Logicamente, por uma questão da ética moral e da perfeição do Senhor, os pedidos devem ser feitos sempre levando-se em consideração a sua vontade. 

De acordo com o contexto bíblico, a oração precisa ser feita com sabedoria. É importante clamarmos ao Senhor, para que nos ensine a orar da forma correta. 

Os tempos dos verbos grego no v. 8 indicam continuidade. Devemos continuar a pedir, a buscar e a bater. 'Pedir', fala da consciente necessidade e da confiança que Deus ouve nossa oração. 'Buscar', fala de fervente petição associada a submissão à vontade de Deus. 'Bater', fala da perseverança de buscar a Deus quando Ele não responde imediatamente. 


A garantia de Cristo de que o suplicante receberá o que pede, baseia-se em: (1) buscar em primeiro lugar o Reino de Deus. (2) a bondade e amor paternais de Deus. (3) orar de conformidade com a vontade de Deus. (4) cultivar a comunhão com Cristo. (5) obedecer a Cristo.

O fato de sermos ouvidos por Cristo já é prova de sua bondade e justiça conosco. Deus nos ama com um amor maior do que aquele de um bom pai terrestre e quer que lhe peçamos tudo quanto necessitamos, pois Ele promete dar-nos o que é bom para nós. Por sua bondade concede-nos o Espírito Santo como Conselheiro e Ajudador. 

Na parábola, Jesus se apropria de dois extremos para revelar a bondade de Deus. Se aquele juiz sendo tão mau foi capaz de atender à mulher, quanto mais o Senhor, que é bondoso e compassivo (Mt 7.11).

Outro contraste presente na parábola revela o caráter justo do criador. Para Davi, "...o Senhor é justo e ama a justiça" (Sl 11.7). Ao avisar para o Patriarca Abraão sobre a iminente destruição de Sodoma e Gomorra, este intercede por aquele povo, apelando para a justiça divina.

Em resposta, o Senhor afirma na última apelação "Não a destruirei, por amor dos dez" (Gn 18.32). Em função de Deus ser justo, todo aquele povo teria sido poupado, caso houvessem ao menos dez fiéis. E por ser justo também, aquelas cidades ímpias foram destruídas. A justiça de Deus se concretiza mediante o julgamento com retidão.

Ao mesmo tempo que a parábola trata da perseverança na oração, e da justiça divina, Jesus mostra ainda que Deus resolve nossas causas (cf. Dt 10.17,18). A viúva tinha um problema muito difícil a ser solucionado.

Isso fica claro na sua insistência/persistência. O juiz chegou a se sentir importunado. Na lei, a viúva não poderia ficar desamparada. Por sinal, se de alguma forma alguém a prejudicasse e ela clamasse ao Senhor, Ele respondia com "uma vingança rápida" (Êx 22.22-24).

A PERSEVERANÇA DA VIÚVA É UMA IMAGEM PARA NÓS

Há, na carta aos Hebreus, uma exortação a que "...deixemos todo embaraço e o pecado que tão de perto nos rodeia e corramos, com paciência a carreira que nos está proposta" (Hb 12.1). 

Com isso, o amado irmão Paulo mostra à igreja do Senhor que para sermos exitosos na vida cristã, se faz necessário trilharmos o caminho da oração.

A vitória contra o pecado está diretamente ligada à vida de intimidade com Deus. Afinal, nosso combate não é contra os seres deste mundo, mas contra "principados e potestades" do reino das trevas. 

Enquanto Cristo não vier nos buscar, todos somos tentados a pecar constantemente. Todavia, a realidade da tentação não deve jamais servir de "aso" para o acometimento do pecado. A Bíblia nos manda fugir "da aparência do mal".

Definitivamente, é muito mais difícil ao crente que vigia e ora, estuda a Bíblia e jejua cair em tentações por falta de aviso. Foi assim com José, que mesmo estando no Egito, não permitiu que o Egito entrasse em seu coração. 

Ele teve todas as chances de pecar. No entanto, escolheu respeitar a mulher de Potifar e ser fiel a Deus. De igual modo Daniel, que resistiu a pressão babilônica, não se deixando dominar por ela. Estes crentes venceram porque souberam a importância da oração para as suas vidas. Tantos outros grandes nomes poderiam ser citados aqui, mas no momento achamos desnecessário.

Assim como estes homens conseguiram influenciar a sua geração, em razão de terem a vida pautada na oração e temor do Senhor, a igreja do presente século não pode se portar de modo diferente. Egito e Babilônia continuam vivos e operantes em nossos dias. 

Se hoje não estamos conseguindo impactar ainda mais o mundo, é porque nos tornamos negligentes no quesito oração. Importante é sabermos que o Senhor não mudou. 

A esse respeito, a Bíblia nos revela que o clamor de um coração contrito além de restaurar moral e espiritualmente a sociedade, ainda gera a cura da terra, enfermada pelo pecado "...e se o meu povo, que se chama pelo meu nome, se humilhar, e orar, e buscar a minha face, e se converter dos seus maus caminhos, então, eu ouvirei dos céus, e perdoarei os seus pecados, e sararei a sua terra" (2Cr 7.14). 

Além do mais, o princípio da oração conduz o crente a manter-se firme em busca do alvo, na esperança da glória futura que está reservada aos que resistirem até o fim. Escrevendo à igreja de Filipos, o Apóstolo se declara "...preso por Cristo", para alcançar a vida eterna Fp 3.12-14. 

De forma clara, vemos na parábola do juiz iníquo que a perseverança na oração também se relaciona com a expectativa do salvo, na iminente volta de Cristo. 

Há em Lucas 17.22 um alerta sobre o tipo de oração e o perigo de esmorecimento na prática de orar. A oração deve ser persistente (contínua). Já fora dito aqui que os crentes devem perseverar em oração em todo o tempo, conforme registrado em Romanos 12.12. 

O crente apático à oração está fadado ao esfriamento na fé; à fraqueza espiritual e consequentemente a perda da visão do Reino de Deus. Seguramente podemos afirmar que o fastio pela oração e Palavra de Deus, atrai problemas que afetam a vida espiritual, assim como o fastio físico atrai doenças (vírus) ao corpo. 

De igual modo, na parábola, Jesus alerta-nos ainda para o valor da fé perseverante. "Quando, porém, vier o filho do Homem, porventura, achará fé na terra?" (Lc 18.8). A pergunta é desafiadora justamente pelo fato de saber o Senhor que sobretudo os últimos dias da igreja na terra são difíceis. 

No sermão profético, somos advertidos de que "...por se multiplicar a iniquidade, o amor de muitos se esfriará". Porém, nesta mesma linha, assegura-nos Cristo que "...aquele que perseverar até ao fim será salvo". 

Mediante esta fé o crente é impulsionado a corajosamente testemunhar de Jesus, mesmo nas perseguições e tribulações (Lc 9.26; 12.9). Trata-se de uma disposição e coragem sobrenaturais. 

Por fim, compreender esta parábola nos leva a ter uma vida de oração e perseverança. Aquela viúva esteve à porta do juiz até o instante em que foi atendida em sua causa. Da mesma sorte, a igreja busca de Jesus a solução para seus problemas. 

Confiemos e esperemos, pois, na justiça de Deus que é justo juiz. Aguardemos fielmente o arrebatamento da igreja, quando finalmente se consumará a nossa salvação. Sabemos que aflições sempre hão de vir. Mas temos do Senhor a segurança de que podemos sair vitoriosos e bem mais amadurecidos na vida cristã (Jo 16.33). 




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Referências:

BÍBLIA DE ESTUDO PENTECOSTAL - Editora CPAD 1995.

Lições Bíblicas - nº 04, 4º Trimestre 2018, CPAD.

PFEIFFER, Charles F; Vos, Howard F; Rea, John. Dicionário Bíblico Wycliffe. Rio de Janeiro: CPAD, 2010.




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