Edilson Moraes dos Santos
_______________________
“Então Jezabel mandou um mensageiro a Elias, a dizer-lhe: Assim me façam os deuses, e outro tanto, se até amanhã a estas horas eu não fizer a tua vida como a de um deles. Quando ele viu isto, levantou-se e, para escapar com vida, se foi. E chegando a Berseba, que pertence a Judá, deixou ali o seu moço. Ele, porém, entrou pelo deserto caminho de um dia, e foi sentar-se debaixo de um zimbro; e pediu para si a morte, dizendo: Já basta, ó Senhor; toma agora a minha vida, pois não sou melhor do que meus pais. E deitando-se debaixo do zimbro, dormiu; e eis que um anjo o tocou, e lhe disse: Levanta-te e come. Ele olhou, e eis que à sua cabeceira estava um pão cozido sobre as brasas, e uma botija de água. Tendo comido e bebido, tornou a deitar-se. O anjo do Senhor veio segunda vez, tocou-o, e lhe disse: Levanta-te e come, porque demasiado longa te será a viagem. Levantou-se, pois, e comeu e bebeu; e com a força desse alimento caminhou quarenta dias e quarenta noites até Horebe, o monte de Deus” (1 Re 19.2-8).
Objetivos:
-Compreender a humanidade do
profeta Elias.
-Identificar as causas e
sintomas da depressão de Elias.
-Detalhar o tratamento de Deus à
depressão de Elias.
INTRODUÇÃO. Após enfrentar os profetas de Baal, Elias recebe
ameaças de morte, da parte de Jezabel. Essa notícia desestabilizou o homem de
Deus ao ponto de entrar num estado de depressão profunda, refugiando-se em
Berseba, conseguindo a recuperação da forças mediante o agir de Deus. Não é
fácil admitir que um homem como Elias, tido como um vulto da história cristã
tenha em algum momento ficado depressivo. Todavia, o fato remete-nos à compreensão
de que mesmo sendo um grande profeta, este não era superior, em nada aos demais
seres humanos. Os exemplos desse episódio de Elias apontam ainda para os nossos
dias, em que pessoas também tementes a Deus sofrem desse mal terrível.
Necessário se faz entendermos, enquanto Igreja, como lidar com a situação, conhecer as causas e conseqüências e os meios para se chegar à cura, aliviando os amados irmãos deste problema tão sério, que requer toda a atenção e dispensa de amor ao próximo.
Necessário se faz entendermos, enquanto Igreja, como lidar com a situação, conhecer as causas e conseqüências e os meios para se chegar à cura, aliviando os amados irmãos deste problema tão sério, que requer toda a atenção e dispensa de amor ao próximo.
ELIAS - UM HOMEM COMO OS OUTROS. Essencialmente, embora
alguns não creiam na tricotomia, o ser humano é formado de corpo, alma e
espírito. Estão inseridos nestas subdivisões, as questões que podem ser explicadas
biologicamente (corpo), sentimentais e emocionais (alma) e as espirituais
(espírito).
Mesmo tendo sido usado com grande poder, profetizado com ousadia dos céus e feito outras coisas portentosas como este gigante fez, isto não o diferencia dos demais homens, nem o qualifica como sendo superior, em nada, em se tratando de humanidade.
Notamos que o diferencial na vida de Elias, está em sua fidelidade ao seu Deus. Cuidava com zelo profundo da vida espiritual, pautada na observância da Palavra do Senhor. “Sucedeu, pois que, sendo já hora de se oferecer o sacrifício da tarde, o profeta Elias se chegou, e disse: Ó Senhor, Deus de Abraão, de Isaque, e de Israel, seja manifestado hoje que tu és Deus em Israel, e que eu sou teu servo, e que conforme a tua palavra tenho feito todas estas coisas” (1 Re 18.36). O domínio da Palavra somado a uma vida de oração constante foi decisivo para o profeta, quando do confronto com os idólatras, lá no Monte Carmelo. A Bíblia registra que enquanto Acabe “subiu a comer e a beber, [...] Elias subiu ao cume do Carmelo e se inclinou por terra, e meteu o seu rosto entre os seus joelhos” (1 Re 18 42, 43).
Escrevendo a respeito de Davi, o teólogo Gonçalves (2012, p. 63) afirma que “Ele não era um anjo, ou um semideus ou ainda um dos heróis antigos, mas um homem que amava a Deus mesmo com todas as suas fragilidades.” Aplica-se, com facilidade o mesmo pensamento a Elias. Tiago, com muita propriedade, reconhecendo essa verdade a respeito da humanidade inerente aos seres racionais, afirma: “Elias era homem sujeito às mesmas paixões que nós, e orou com fervor para que não chovesse, e por três anos e seis meses não choveu sobre a terra” (Tg 5.17). O autor neotestamentário sinaliza dois aspectos relevantes: (1) “Elias era homem.” Sendo assim, este possuía todas as limitações e tendências como os demais. (2) Possuía as “mesmas paixões.” Entende-se por paixões, as carências, sentimentos e vontades que podem induzir o homem ao medo, como fez Elias.
AS CAUSAS DOS CONFLITOS DE ELIAS. (1) Decepção. Vejamos o texto de 1 Reis 18.37 e 38: “Responde-me, ó Senhor, responde-me para que
este povo conheça que tu, ó Senhor, és Deus, e que tu fizeste voltar o seu
coração. Então caiu fogo do Senhor, e consumiu o holocausto, a lenha, as
pedras, e o pó, e ainda lambeu a água que estava no rego.” Mediante o grande
feito perante todos os profetas de Baal, em que o fogo dos céus desceu
consumindo não só o sacrifício, mas ainda a água, as pedras e tudo o que estava
em volta e após a morte dos idólatras perante todo o povo de Israel, não esperava
o profeta que o coração de Acabe e Jezabel, se tornasse ainda mais duro.
Imaginou ele, equivocadamente que se convertessem ao Senhor, como fizeram os
que presenciaram o acontecimento no Carmelo. Para a psicóloga Esther Carrenho
(2001, PP. 148-149), a decepção foi a causa que mais se aproxima da depressão
não só de Elias, como também de Jó, Moisés e Davi.
Carrenho destaca a respeito
deste homem de Deus (Elias) que:
“Quando analisamos psicologicamente os fatos na vida de Elias, podemos também concluir que sua depressão poderia ser chamada de “depressão após o sucesso”. Esse é um tipo de depressão que também pode cair sobre muitas pessoas. Normalmente, diante de um desafio, o corpo passa a produzir um excesso de adrenalina para que a pessoa dê conta de executar todo seu plano até ver o desafio cumprido. Uma vez que a tarefa está encerrada, a produção de adrenalina também cessa, trazendo para o corpo uma prostração e um cansaço de tal forma que algumas pessoas demoram alguns dias para se recuperarem novamente”.
(2) Medo. Elias estava preparado
psicologicamente para uma reação e de repente surge outra. A sentença de morte,
saída da boca da toda-poderosa Jezabel (esta dominava o rei, como se faz a um
cãosinho) – foi suficiente para o amolecimento imediato do coração daquele que
vinha de uma experiência tão marcante para aqueles e, via de regra, para os
nossos dias, como se vê o impacto que se sente ao estudar, ainda que
superficialmente o ocorrido. Segundo Carrenho (2001), “Elias sentiu medo diante
da ameaça de Jezabel. E esse medo vai desencadear uma depressão que faz com que
Elias, o grande herói, se prostre em total desânimo”.
AS CONSEQUÊNCIAS DOS CONFLITOS. Fuga e isolamento. “Quando ele
viu isto, levantou-se e, para escapar com vida, se foi. E chegando a Berseba,
que pertence a Judá, deixou ali o seu moço” (1 Re 19.3). A reação do profeta
reforça a ideia de que o sentimento que lhe sobreveio naquelas circunstâncias,
foi o de que não haveria escape algum das mãos do inimigo, caso não fugisse
para o isolamento total. O medo rouba-lhe todas as energias que pudessem possibilitar
outra saída. Há quem diga que o medo torna o adversário em gigante, ainda que
seja em menor estatura.
Autopiedade e desejo de morrer.
A autocomiseração é outro aspecto bem marcante da depressão. “Ele, porém,
entrou pelo deserto caminho de um dia, e foi sentar-se debaixo de um zimbro; e
pediu para si a morte, dizendo: Já basta, ó Senhor; toma agora a minha vida,
pois não sou melhor do que meus pais” (1 Re 19.4). Os psicólogos, a exemplo de
Carrenho, distinguem com precisão “desejo de morrer” de “desejo de se matar”. Notemos
que no o servo de Deus, exposto àquele quadro delicado, pede que sua vida seja
tirada, ou seja, que saia de si o fôlego de vida. Arrancá-la com as próprias
mãos, é outra história, com outros agravantes e que requer um olhar mais
cauteloso, tendo sobretudo o cuidado para não se fazer juízo de fatos tão
complexos como este que estamos tratando. Por exemplo: o crente que, acometido
por uma depressão crônica tira a própria vida perde a salvação de sua alma?
Outra questão é: A Igreja tem assumido os seus membros que se encontram nesta
situação? Tratarei do assunto em outro momento, em breve. As provocações aqui são
apenas para promover a reflexão sobre o assunto que é muito relevante.
O SOCORRO DIVINO. Se fosse levado para ser avaliado por algum
psicólogo, certamente o diagnóstico não seria animador para Elias. Porém, Deus
cuidou zelosamente do se servo, animando-o, encorajando-o para as novas batalhas
as quais ainda teria que enfrentar.
Nitidamente encontramos neste
episódio, Deus tratando do seu servo, em etapas progressivas e metódicas,
conforme segue. “E deitando-se debaixo do zimbro, dormiu; e eis que um anjo o
tocou, e lhe disse: Levanta-te e come” (1 Re 19.5). Nota-se, neste particular,
que primeiramente aquele homem precisava de alimento para fortalecer o corpo físico.
A depressão suspende o apetite num processo de desvalorização total, agonia e
angústia. À medida que aumentam os dias sem alimentação, o cérebro perde sua
capacidade de raciocínio, abrindo precedentes para a loucura e uma espécie de esquizofrenia.
Por isto, talvez, a necessidade de estrategicamente por meio do anjo, estimulá-lo
a comer. Isto o faria recobrar as forças e conseqüentemente, a capacidade
mental. Porém o que se evidencia é um
estado depressivo crônico de tal modo que a bíblia assevera que o homem de Deus
come, mas logo volta a deitar-se num sinal claro que algo mais precisaria ser
feito. “Ele olhou, e eis que à sua cabeceira estava um pão cozido sobre as
brasas, e uma botija de água. Tendo comido e bebido, tornou a deitar-se” (1 Re
19.6). Em seguida, o anjo mais uma vez o desperta para se alimentar. Vejamos
que na primeira vez, apenas manda se levantar e comer.
Na segunda, repete a fala
anterior, seguida de um complemento que fez toda a diferença na reanimação do
profeta: “O anjo do Senhor veio segunda vez, tocou-o, e lhe disse: Levanta-te e
come, porque demasiada longa te será a viagem” (1Re 19.7). Como foi dito
anteriormente, a recuperação obedece a um estágio de progressividade seqüenciado.
SINTOMAS DA DEPRESSÃO. Mudanças de humor, perda de interesse ou prazer nas atividades, sentimento de culpa ou perda de auto-estima, distúrbio de sono ou de apetite, perda de energia e falta de concentração.
TRATANDO A DEPRESSÃO. O tratamento tradicional é feito à base de antidepressivos com acompanhamento psicológico. A complementação ao tratamento com atividades esportivas aeróbicas também é recomendável por alguns profissionais de saúde.
INDICES DA DEPRESSÃO. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), a depressão atinge 121 milhões de pessoas ao redor do mundo e está entre as principais causas que contribuem para incapacitar um indivíduo. A OMS prevê que até o ano de 2020 a depressão passe a ser a segunda maior causa de incapacidade e perda de qualidade de vida. Estima-se que cerca de 17 milhões de brasileiros tenham a doença. De acordo com um levantamento feito pelo Instituto Nacional de Seguro Social (INSS), 74.418 trabalhadores foram afastados de suas atividades em 2007 em decorrência de depressão.
A depressão pode ocorrer tanto em homens como em mulheres, de todas as idades e de qualquer classe social. No entanto, a incidência é muito maior entre as mulheres do que entre os homens (a proporção é de dois casos entre elas para cada caso entre eles). Entre os indivíduos que também apresentam maior risco de desenvolver a doença estão as pessoas com casos de depressão na família, usuários de drogas, medicamentos e álcool, e mulheres nos dezoito meses seguintes a um parto.
Referências:
BARBOSA, Francisco de Assis. Porção dobrada. CPAD: Rio de Janeiro, 2012.BÍBLIA SAGRADA ELETRÔNICA. VERSÃO 3.6.1
BÍBLIA SAGRADA. VERSÃO DIGITAL 6.7.
Disponívelemhttp://veja.abril.com.br/idade/exclusivo/perguntas_respostas/depressao/sintomas-diagnostico-tratamento-doenca.shtml/Aceso em: 02 fev de 2013.
GONÇALVES, José. Um homem de Deus em depressão. In: Lições bíblicas para a Escola Dominical. 1º trimestre de 2013. Rio de Janeiro, CPAD.
O seu comentário, ainda que seja uma crítica negativa, nos ajudará a produzir melhores textos para este público imenso e inteligente que acompanha este blog.
Nenhum comentário:
Postar um comentário