TEXTO BÍBLICO:
1 RE 19.16,17,19-21
INTRODUÇÃO. O maior desafio para quem
desenvolve determinado serviço não está em como começar, e sim, como será
substituído em suas tarefas. Elias teve o cuidado de preparar o seu substituo fornecendo
ao amigo Eliseu as ferramentas
essenciais para um ministério profíncuo e poderoso como o foi o seu,
conduzindo-o a exercer o ministério profético com uma vida de temor, zelo, autoridade e
dependência da vontade soberana de Deus. Coube a este grande servo de Deus dar
lições práticas de uma vida de cuidados espirituais e morais como mecanismos
poderosos para influenciar, via ação e sem coação, os homens de sua geração a
uma postura de verdadeiros servos de Deus, pelo abandono de todo o tipo de
pecado e paganismo.
O LONGO PERCURSO
DE ELIAS. Não fica muito claro o que motivou o deslocamento de Elias – Berseba para
Horebe, o que corresponde a cerca de 600 quilômetros. O que há como registro histórico é
uma clara inconformidade de Deus, pelo fato deste se encontrar naquele lugar. “Ali entrou numa caverna, onde passou a
noite. E eis que lhe veio a palavra do Senhor, dizendo: Que fazes aqui, Elias?”
1 Re 19.9. Ao responder, deixa o profeta a sensação de que se encontra ainda desorientado por conta da ameaça de Jezabel. Ao saber que não estava sozinho,
por meio do diálogo iniciado com o criador de tudo, duas coisas ficam claras:
uma, o senhor permanecia no controle da história e a outra é que o trabalho do
profeta não tinha sido em vão, conforme se vê em 1Re 19.9-18. Esta percepção
foi suficiente para reconduzi-lo à direção certa, cumprindo o propósito
inicial, conforme Deus havia estabelecido.
ELIAS NA CASA DE ELISEU. O gesto de
lançar o manto sobre uma pessoa, conforme o registro de 1 Re 19.19 tinha um
significado relevante, naquela época, para o povo hebreu. Neste caso em
particular, representa que Eliseu estava sendo credenciado para o ministério
profético em substituição a Elias.
A chamada profética de Eliseu
encontra-se repleta de princípios dos mais importantes para todos que desejam
fazer a obra de Deus. Primeiro, para se envolver no trabalho cristão, é preciso
ter fé. Com toda certeza, este servo de Deus estava inserido na lista dos sete
mil que não abandonaram ao Senhor, em troca por baal. Segundo, o serviço
cristão nunca é feito por pessoas desocupadas. Davi estava no campo cuidando
das ovelhas quando foi ungido rei de Israel. Por sinal, o primeiro rei (Saul) ao
receber a responsabilidade de administrar o povo escolhido, estava ocupado em seus
afazeres cotidianos. Pedro cuidava de suas obrigações pesqueiras quando foi
chamado pelo mestre para segui-lo. Continuar esta lista seria algo cansativo,
dada a sua amplitude. Terceiro,
embrenhar-se na seara cristã tem um custo. A renúncia é a demonstração mais evidente
por parte dos fiéis que decidem fazer a obra de Deus. Ao matar a junta de bois
e servir ao povo como alimento, o sucessor de Elias sinalizou para outro aspecto da sua
compreensão do que é a chamada divina, a qual é a real noção
de que o homem de Deus - neste caso, o líder espiritual precisa servir antes mesmo de ser servido,
alimentar a multidão faminta não apenas com o pão espiritual, mas também com o material. Quando da multiplicação dos pães e dos peixes, porventura Jesus não poderia simplesmente fazê-los cair do céu, como ocorreu com o maná do deserto? Todavia, preferiu este que seus discípulos – futuros apóstolos encontrassem uma solução para alimentar a grande multidão faminta. “... onde compraremos pão para estes comerem?” (Jo 6.5). sabia que não teria que cuidar só da alma do povo. Somado a isto, vinha a manutenção do corpo e suas necessidades. Deus atende ao homem em sua plenitude tricotômica (corpo, alma e espírito).
-A obra de Deus é feita por homens vocacionados. Muitos obreiros confundem vocação com profissão. Erroneamente,
esperam ser servidos ao invés de servir. Várias consagrações ministeriais hoje
(inclusive de pastores), não passam pelo olhar meticuloso do “LOGOS” divino.
São homens arrogantes, pedantes, mais amantes dos prazeres efêmeros do que dos
valores celestiais. Jamais passariam pelo crivo das escrituras sagradas.
-A obra de Deus é feita por quem está
debaixo da unção. Eliseu estava acobertado da unção celestial. Nenhum
ministério prospera se não estiver enquadrado nesta verdade. Saul fez de tudo
para se manter num reinado fracassado, rejeitado por Deus. Mas já não tinha
mais a unção. O dono da obra já o tinha passado a outro.
-A obra de Deus é feita também mediante a
habilitação. Por causa da ignorância que causa a miopia espiritual, alguns
ignoram este fato. Principalmente no tempo em que vivemos, é necessário sim,
combinar unção e habilitação, para que a igreja não sofra, como tem sofrido
tanto, sendo conduzida por pessoas despreparadas, promovendo o caos entre o
povo escolhido, em nome de uma “unção” duvidosa.
ELIAS E O DISCIPULADO ELISEU. Lendo o
texto de 2 Re 2.1-8, encontramos alguns pré-requisitos interessantes, no
preparo de Eliseu para substituir seu amigo.
-Familiarização
com o que Deus iria fazer. “Então os filhos dos profetas que
estavam em Betel saíram ao encontro de Eliseu, e lhe disseram: Sabes que o
SENHOR hoje tomará o teu senhor por sobre a tua cabeça? E ele disse: Também eu
bem o sei; calai-vos”. Eliseu estava preparado em todos os aspectos para ver o
grande milagre acontecer. Isto denota afinidade primeiramente com o Senhor, e
ainda, com o seu orientador.
-Perseverança. “E Elias lhe disse: Eliseu fica-te aqui,
porque o SENHOR me enviou a Jericó. Porém ele disse: Vive o SENHOR, e vive a
tua alma, que não te deixarei. E assim foram a Jericó”. Tratava-se de um teste.
Aquele gigante espiritual queria ter plena certeza de que estaria deixando a
continuidade dos trabalhos, com alguém que estava não só envolvido, mas acima
de tudo, comprometido com a grande missão de conduzir o povo à verdadeira
adoração a Deus.
-Constante
vigilância. “O que vendo Eliseu, clamou: Meu pai, meu pai, carros de Israel, e
seus cavaleiros! E nunca mais o viu; e, pegando as suas vestes, rasgou-as em
duas partes”.
“A
história da chamada de Eliseu e como se deu o seu discipulado deveria servir de
padrão para os ministros hodiernos! Infelizmente a qualidade dos ministros
evangélicos tem caído muito e a fragmentação das Convenções e Concílios tem uma
boa parcela de contribuição nesse processo. Geralmente o processo pela disputa
de domínio de determinado espaço ou território entre as lideranças, que não
chegando a um consenso sobre as suas esferas de atuação, resolvem dividir de
forma litigiosa determinado campo pastoral. Feito isso, a parte menor passa a
consagrar ministros para que uma nova convenção ou Concílio seja formado. É
exatamente aí que as qualificações exigidas para a apresentação de um Ministro
da Palavra costumam ser esquecidos” (Gonçalves, 2012, p. 98). Segundo afirma
este teólogo, comportamento como este, aponta para outra forma de ver o evangelho,
que passa a primar não mais pela qualidade do pastor e de seus liderados, mas
para a quantidade. Em outras palavras, é o número em detrimento da essência.
Que Deus proteja o seu povo de tamanha agressão aos princípio bíblicos
cristãos!
-Quando os
Ministros são colocados neste posto apenas por convenção, de acordo com o que
foi relatado anteriormente, acontece o que foi comprovado em pesquisa feita por
Bill McCartney, diretor de um grande ministério para homens, entre pastores
americanos: “80% crêem que o exercício do ministério tem empobrecido sua vida
familiar; 33% crêem que a Igreja é responsável pelos desastres familiares em
suas famílias; 50% sentem-se incapazes para o exercício ministerial; 90%
rejeitam o treinamento que receberam, acham que os seminários são inadequados
para a tarefa de treinar pastores; 70% tem uma autoestima mais baixa hoje do
que quando começaram o ministério; 37% estiveram ou estão envolvidos em uma
aventura sexual ilícita com membros de sua Igreja; 70% disseram que não tem um
só amigo; 40% pensam seriamente em desistir do ministério” (Gonçalves, 2012, p.
99).
O LEGADO DE ELIAS. “Ninguém conseguirá
ser um homem de Deus como Elias o foi, se não possuir valores morais e
espirituais bem definidos”.
-Um legado espiritual. Ainda que tivesse
todos os bens do mundo, em nada se compararia com o tesouro espiritual deixado
por este profeta para o mundo inteiro. Tratava-se de um ser de zelo profundo
pela adoração verdadeira. Por conta disso, viu-se no dever de confrontar a
ímpia Jezabel, o desviado Acabe, os 450 profetas de baal, além dos 400 de
aserá, confiando inteiramente na providência e na manifestação do poder
extraordinário de Deus em seu favor e em defesa da fé genuína (1 Re 18.1-36). Daniel
e seus amigos foram tentados a comer dos manjares oferecidos aos ídolos e
posteriormente, a se prostrarem ante a imagem esculpida de Nabucodonosor, rei
de babilônia. Apesar das provocações e ameaças, estes preferiram se manter leais
ao seu Deus, mantendo-se firmes em suas convicções espirituais aprendidas de
seus pais sanguíneos e na fé.
-Um legado moral. Mesmo tendo toda a
noção dos riscos que corria, não deixou de denunciar as ações inexcrupulosas do
rei. Fez questão de entregar os profetas que “comiam na mesa de Jezabel” (1 Re
18.19). Indignou-se e denunciou a Acabe,
por ter usado de má fé, para possuir a vinha de Nabote, inclusive cometendo
homicídio por meio de sua mulher (1 Re 21.17-20). Escrevendo aos Filipenses,
afirmou, certa vez Paulo: “Sede também meus
imitadores, irmãos, e tende cuidado, segundo o exemplo que tendes em nós, pelos
que assim andam” (Fp 3.17). Está aqui implícito a conduta moral que os
apóstolos tinham que possuir para que pudessem reproduzir aos seus liderados. É
claro que não se trata aqui de cópia robótica, mas de modelos de vida que
atestem na prática, o poder regenerador da presença de Deus na vida do homem.
Finalmente, o legado de Elias remete-nos
à percepção da necessidade de resgatarmos tudo aquilo que vem se dizimando ao
longo dos dias, do meio cristão: A adoração sincera, a prestação de serviço com
maior zelo, conduta condizente com a Palavra de Deus e modelos que inspirem os
fiéis e a sociedade, pelo testemunho incontestável .
Existem muitos crentes equivocados,
pensando que adoração pagã é somente estar prostrado diante de um deus a
exemplo de baal ou a uma imagem de escultura. Não podemos esquecer que quando
adoramos por vaidade, exibicionismo ou quando vamos ao culto sem propósitos,
apenas para prestar satisfações ao pastor ou dirigente, não deixa de ser,
também uma forma pagã de adorar. Outros, assim como agem alguns mundanos que almejam
ingressar no serviço público para ter o emprego e não o trabalho, agem de modo
semelhante buscando títulos e mais títulos na Igreja, mas não apresentam
nenhuma produtividade, nem resultado de suas ações. Nós, cristãos da sociedade
moderna podemos agir no mundo com ações de moralidade sem o moralismo utópico
que não ajuda a ninguém. O nosso mestre Jesus teve uma vida moral, de
valorização das pessoas, de cumprimento com suas obrigações perante seu
semelhante e o estado. Temos o privilégio de sermos os “Elias” e “Eliseus” de
nossa geração, pondo em prática as evidências de uma transformação radical que
só Jesus foi capaz de fazer em nossas vidas, mediante a sua morte na cruz do
calvário. Não podemos, sob nenhuma hipótese, pactuarmos com Acabe e a lacaia da
sua esposa, com práticas desumanas e antibíblicas. A cada dia somos testados em
nossas convicções e devoção Deus. Cabe-nos dar as respostas devidas a uma
geração que clama por justiça, paz, esperança e amor (sobretudo este).
A sociedade está carente de bons
exemplos (modelos). No cenário político, encontramos uma parcela insignificante
de pessoas com dignidade moral que possam nos orgulhar. O noticiário diário
dificilmente apresenta uma matéria capaz de empolgar os cidadãos. Vai desde
aumentos exorbitantes de salários à corrupção nos mais baixos níveis, além da
falta ética, como é o caso da eleição de um senador à presidência do Senado,
estando este sob denúncia do Ministério Público, de ter usado o erário público
para fins pessoais. Da mesma forma, acontece na religião. Os líderes atuais não
estão um pouco preocupados em ser o exemplo para os fiéis. Não vemos bons
exemplos nas Convenções e concílios. Os ‘grandes homens de Deus’ desses dias,
manipulam a Bíblia Sagrada, imitam a Igreja romana com venda de indulgências
(com outras roupagens) e, não são capazes de assumir seus erros humilhando-se
perante o Senhor, como fez Davi, quando advertido pelo profeta Natã.
Esperamos que as lições de vida de Elias
sirvam para moldar o caráter daqueles que foram chamados por Cristo para ser
profetas e sacerdotes com vistas a contemplar o mundo e suas carências.
Referências:
GONÇALVES, José. O legado de Elias. In: Lições bíblicas
para a Escola Dominical. 1º trimestre de 2013. Rio de Janeiro, CPAD.
BARBOSA, Francisco de Assis. Porção dobrada. CPAD: Rio de Janeiro, 2012.
BÍBLIA SAGRADA ELETRÔNICA. VERSÃO 3.6.1
BÍBLIA SAGRADA. VERSÃO DIGITAL 6.7.
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Edilson Moraes dos Santos
Professor da EBD – Deptº Jovens
e adultos.
Graduando em Letras Vernáculas –
UNEB.
Membro da Igreja Assembléia de
Deus.
Euclides da Cunha – BA.
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