Os valores imateriais de uma propriedade estão além dos aspectos puramente monetários.
Edilson Moraes dos Santos1
Texto bíblico: 1Re 21.1-5;
15,16
Objetivos:
o
Identificar o
objeto da cobiça de Acabe.
o
Citar as
causas da cobiça.
o
Conscientizar-se
dos frutos e conseqüências.
INTRODUÇÃO. A vinha de Nabote, elemento de estudo desta lição era uma herança da qual sabia ele jamais poderia se desfazer, não somente pelo material, mas sobretudo pelo seu valor simbólico. Estava envolto de sentimentos históricos, familiares e tradições cultivadas ao longo de sua vida. Do lado oposto, um rei tirano, cobiçoso e soberbo que não mede conseqüências para se apossar dos bens pessoais do seu próximo. Este, mesmo tendo diversas propriedades não dá por satisfeito, chegando ao cúmulo de tirar a vida de inocentes para se apoderar de sua pequena, mas valorosa herança.
O OBJETO DA COBIÇA. O décimo mandamento proíbe de todo tipo quando fala da casa do vizinho, de sua esposa, servo, boi, jumento, ou de qualquer coisa que lhe pertença. O Novo testamento declara que a cobiça é uma forma de idolatria ou adoração a deuses ou posses e a condena junto com outros pecados.
No caso de Acabe, seu desejo é o resultado da vaidade e ganância injustificável – se é que há justificativa para uma ação dessas. Ele possuía muitas propriedades e demais riquezas, mas isto não lhe fora suficiente.
De sua parte, Nabote estava obedecendo ao que estava determinado por lei. Não era permitido passar uma propriedade a alguém que não fosse da mesma linhagem. “Também a terra não se venderá em perpetuidade, porque a terra é minha; pois vós sois estrangeiros e peregrinos comigo” (Lv 25.23). Como um servo que prima pelo cuidado em cumprir a palavra de Deus, este pai de família tinha a convicção de que a terra que possuía não era propriamente sua. Era apenas o administrador que precisava zelar e valorizar aquilo que o Senhor colocara aos seus cuidados. “Assim a herança dos filhos de Israel não passará de tribo em tribo; pois os filhos de Israel se chegarão cada um à herança da tribo de seus pais” (Nm 36.7).
-Herança. “[Do lat. haerentia, segurar, agarrar]. É o cômputo dos bens deixados por alguém em testemunho” (Dic. Teológico). No aspecto teológico, mediante a morte de Cristo, na condição de primogênito do pai, logo herdeiro das riquezas celestiais, foi lavrado o Novo Testamento – entenda-se como Novo Testemunho – dando a todos os salvos o legado co-herdeiros e, portanto, proprietários de todos os bens dispensados pela graça divina.
-Esaú e o desprezo da primogenitura/herança. Por não dar o devido valor ao direito da primogenitura, este vendeu para seu irmão Jacó ao preço de uma porção de comida, todos os privilégios assegurados por Deus, em testemunho eterno a todo o povo de Israel. Este costume, se analisado apenas sob uma ótica simplista, perderá todo o seu efeito e relevância para a humanidade. Pelo contrário. Este fenômeno é mais daqueles que aparecem em todo o AT e que tem por finalidade apontar para Cristo como o redentor do mundo.
-A primogenitura é relevante pelo seu aspecto social. “O termo primogenitura denota as vantagens e direitos as vantagens e direitos normalmente desfrutados pelo filho mais velho. Estes incluíam o vigor natural do corpo e do caráter (Gn 49.3; Dt 21.17), uma posição de honra na direção família (Gn 27.29), e uma porção dobrada da herança (Dt 21.15-17). Quando aplicado a tribos e nações, ele transmite a ideia de superioridade política e material.” (Dic. Wycliffe). Isto já fica previamente instituído desde a distribuição das terras, quando da entrada do povo hebreu, mediante promessa feita pelo Senhor, aos filhos de Israel, de que herdariam as possessões de Canaã. Trata-se na verdade, de uma forma justa criada por Deus, para que seu povo não viesse a cobiçar os bens alheios. Além do mais, tinha o propósito de que o povo cuidasse da terra, tornando-a ainda mais fecunda e por meio disso, que tivessem sempre, em abundância o seu sustento cotidiano. Outro aspecto a ser analisado é fato de que direciona ainda para uma liderança espiritual. Cabia ao herdeiro cuidar do desenvolvimento e crescimento espiritual da sua casa. Tratava-se então de uma responsabilidade que estava para além dos fatos puramente paupáveis e visíveis.
-A primogenitura é relevante por seu aspecto escatológico. Este fato apontava para o primogênito filho de Deus, que mediante a sua morte vicária, daria ao mundo inteiro por intermédio da conversão/arrependimento, o direito de se tornar também herdeiros de uma excelente herança, da qual não há dinheiro que pague, pois o próprio sangue derramado sobre a cruz já é o preço da remissão dos pecados do mundo. Quando foi visto por João Batista no Rio Jordão, este anunciou, com toda a propriedade: “Eis o cordeiro de Deus que tira os pecados do mundo”.
AS CAUSAS DA COBIÇA. Mesmo tendo muito além do que seu súdito, o rei entendeu que precisava de mais posses.
-O materialismo faz com que as pessoas cada vez mais se sintam carentes de algo para lhe completar. Primam o ato de “ter” como sendo relevante para sua vida. Para estes, trata-se de uma questão de status social. À medida que abarcam o mundo com suas riquezas, se esquecem de viver humanamente, desprezam a justiça e a ética passando por cima de qualquer que possam, para conseguir riquezas. Aquele rapaz que se aproximou de Jesus saiu frustrado ao ser orientado pelo mestre a vender suas propriedades e repartir entre os pobres, afinal era muito rico. Note-se que este trocou a salvação da sua alma pelos bens que tinha. “Mas ele, pesaroso desta palavra, retirou-se triste; porque possuía muitas propriedades” (Mc 10.22).
-O hedonismo. O primeiro pensador que formulou uma tese explicitamente hedonista foi, provavelmente, Eudoxo de Cnido. No início do século IV a.C, ele considerava o prazer o bem supremo de todos os seres. Fundada na mesma época por Aristipo de Cirene, a escola cirenaica se manifestou de maneira semelhante. Aristipo entendia por prazer uma qualidade positiva, uma forma de satisfação tranqüila regida pelos sentidos. Julgava também o prazer como algo fugaz. Dizia que o homem deve desfrutar do presente, pois só o presente pertence a ele realmente (www.estudantedefilosofia.com.br). Para os hedonistas, a vida é o presente. Viver intensamente o agora, desfrutando de todos os prazeres que o mundo possa oferecer, se justifica a atitudes tomadas por cada indivíduo. Estes, são capazes de aplicar o princípio “os fins justificam os meios”, desde que atinjam seus objetivos. Trata-se, no fundo de um modo de vida que funciona na contra-mão dos padrões bíblicos que orienta: “Não cobiçarás a casa do teu próximo, não cobiçarás a mulher do teu próximo, nem o seu servo, nem a sua serva, nem o seu boi, nem o seu jumento, nem coisa alguma do teu próximo” (Êx 20.17).
-Pragmatismo. “O Pragmatismo constitui uma escola de filosofia estabelecida no final do século XIX, com origem no Metaphysical Club, um grupo de especulação filosófica liderado pelo lógico Charles Sanders Peirce, pelo psicólogo William James e pelo jurista Oliver Wendell Holmes, Jr., congregando em seguida acadêmicos importantes dos Estados Unidos. Segundo essa doutrina metafísica, o sentido de uma ideia corresponde ao conjunto dos seus desdobramentos práticos” (http://pt.wikipedia.org).
O FRUTO DA COBIÇA. “Então escreveu cartas em nome de Acabe, e as selou com o seu sinete; e mandou as cartas aos anciãos e aos nobres que havia na sua cidade e habitavam com Nabote” (1Re 21.8). A cobiça pode até conduzir o indivíduo a atingir seus intentos, com resultados aparentemente bons. Todavia, não tardará para que seus frutos se revelem de forma amarga.
-Uma prática espiritual usada para camuflar uma ação carnal. “E escreveu nas cartas, dizendo: Apregoai um jejum, e ponde Nabote diante do povo” (1 Re 21.9). Jezabel, conhecedora dos costumes judaicos, montou todo o cenário para injustamente incriminar o inocente Nabote.
-Um assassinato sem direito a defesa. Sob a acusação de haver blasfemado contra Deus e o rei Acabe, aquele homem fiel foi apedrejado publicamente, com toda sua família, sem poder contar com a ajuda de ninguém. Apenas acusadores. “E ponde defronte dele dois filhos de Belial, que testemunhem contra ele, dizendo: Blasfemaste contra Deus e contra o rei; e trazei-o fora, e apedrejai-o para que morra” (1Re 21.8).
-O poder inquisitor em nome de Deus. Durante a inquisição, milhares de pessoas foram castigadas ferozmente, por líderes da Igreja romana, que ao invés de usar a misericórdia e o amor para com o próximo, praticaram as mais terríveis atrocidades, segundo eles tendo como propósito, libertar a alma destes, dos demônios que os aprisionavam. Os corpos em gritos profundos e agoniantes de homens, mulheres e crianças indefesos eram queimados publicamente nas fogueiras enquanto os inquisitores gabavam-se de ter o domínio sobre as vidas e de ter recebido de Deus, o poder para condenar à morte, como bem quizessem. O clamor destes injustiçados está registrado na memória do dono da vida.
AS CONSEQUÊNCIAS DA COBIÇA. Um dos maiores enganos que o homem comete é permitir-se enganar, crendo erroneamente que conseguem esconder as suas ações covardes e desumanas por muito tempo. “Assim diz o SENHOR: Por três transgressões de Judá, e por quatro, não retirarei o castigo, porque rejeitaram a lei do SENHOR, e não guardaram os seus estatutos, antes se deixaram enganar por suas próprias mentiras, após as quais andaram seus pais” (Am 2.4). Em sua onisciência, o supremo conhece o coração do homem no seu mais profundo íntimo. Ao cometer um erro, o sujeito até pode esconder dos seres humanos, menos dos olhos divinos que esquadrinham dia e noite os quatro cantos da terra.
-O preço do pecado. O apóstolo Paulo, escrevendo aos romanos afirma que o salário do pecado é a morte. Para Toda ação existe uma reação. Esta é uma ordem da qual não para escapar, por mais que o homem tente. “E falar-lhe-ás, dizendo: Assim diz o SENHOR: Porventura não mataste e tomaste a herança? Falar-lhe-ás mais, dizendo: Assim diz o SENHOR: No lugar em que os cães lamberam o sangue de Nabote lamberão também o teu próprio sangue” (1Re 21.19).
-O perdão não isenta de conseqüências vindouras. Em sua justiça, o Senhor, mesmo mediante a emissão do perdão aos seus servos, não impede que estes arquem com os reflexos de seus pecados. “Sucedeu, pois, que Acabe, ouvindo estas palavras, rasgou as suas vestes, e cobriu a sua carne de saco, e jejuou; e jazia em saco, e andava mansamente. Então veio a palavra do SENHOR a Elias tisbita, dizendo: Não viste que Acabe se humilha perante mim? Por isso, porquanto se humilha perante mim, não trarei este mal nos seus dias, mas nos dias de seu filho o trarei sobre a sua casa” (1Re 21.27-29).
-A abundância da graça de Deus. Paralelamente ao episódio relatado, encontra-se evidenciada a manifestação da graça divina na vida de Acabe e por abrangência universal, a todos os seres humanos que de alguma forma decidam arrepender-se de seus pecados. Este soberano demonstrou profundo arrependimento pela injustiça que havia feito ao seu súdito, alcançando dessa forma o perdão da parte de Deus. Tratando a respeito da graça abundante, Gonçalves, (2011) afirma: “Mesmo no caso de acabe, a graça de Deus superabunda! A graça de Deus é de fato algo surpreendente! A graça faz com que um julgamento iminente seja adiado! É, contudo, no Novo Testamento que encontramos quão maravilhosa é a graça de Deus.”
Do exposto acima, o que se deve concluir é que não há vantagem alguma em se cobiçar aquilo que pertence ao outro. Menos ainda se esta ânsia vier coroada de homicídios, mentiras ou com o uso irresponsável da Palavra de Deus, para justificar comportamentos materialistas e desumanos. Para ações similares às evidenciadas pela ímpia Jezabel e pelo apóstata sem domínio próprio Acabe, só restam as conseqüências inerentes a todos os que cometem abominações das quais o pai celestial não poderia jamais deixar impune. A justiça é parte intrínseca do caráter divino. Dessa forma, não haveria a menor possibilidade de que agisse com indiferença a fatos como o ocorrido a Nabote. Por outro lado, fica registrado nos anais da história, a marca da manifestação da graça e misericórdia de Deus para com a raça humana. Por maior que seja o pecado pelo homem cometido, há sempre uma válvula de escape, desde que este venha a arrepender-se de sua transgressão, como fez Acabe.
ANDRADE, C. Corrêa. Dicionário teológico: com definições etimológicas e locuções latinas. CPAD: Rio de Janeiro, 1998.
BARBOSA, Francisco de Assis. Porção dobrada. CPAD: Rio de Janeiro, 2012.
BÍBLIA SAGRADA ELETRÔNICA. VERSÃO 3.6.1
BÍBLIA SAGRADA. VERSÃO DIGITAL 6.7.
Disponível em: http://pt.wikipedia.org/ Acesso em: 15 fev 2013.
GONÇALVES, José. A vinha de Nabote. In: Lições bíblicas para a Escola Dominical. 1º trimestre de 2013. Rio de Janeiro, CPAD.
Disponível em: www.estudantedefilosofia.com.br/Acesso em 15 fev 2013.
PFEIFFER, C. F; VOS, H. F; REA, J. Wycliffe: Dicionário bíblico. CPAD: Rio de Janeiro, 2010.
________________________________________
1Professor da EBD – Deptº Jovens e adultos.
Igreja Assembléia de Deus.
Euclides da Cunha – BA.
Nenhum comentário:
Postar um comentário