Por: Edilson Moraes
Texto bíblico:
Mq 1.1-5; 6.6-8
"[...] Tem, porventura, o Senhor tanto prazer em holocaustos e sacrifícios, como em que se obedeça à voz do Senhor? Eis que o obedecer é melhor do que o sacrificar, e o atender, do que a gordura de carneiros." (1Sm 15.22)
Como sempre faço, iniciarei este comentário falando um pouco
sobre o personagem e a obra. Comporto-me assim, por entender que se torna mais
fácil ao estudante absorver das Escrituras Sagradas as ideias principais, tendo
acesso ao contexto em que as coisas se passaram; as figuras que permeiam os
fatos, e os acontecimentos de modo geral.
O profeta Miqueias parece ter sido natural de Moresete-Gate (Mq 1.14), uma povoação da Filístia, distante 32 quilômetros de Jerusalém, mais ou menos. Parece que Miqueias exerceu o ministério profético não muito depois de Amós, Oséias e Isaías terem principiado o seu; e nas suas censuras e avisos ele envolve tanto Israel como Judá (1.1). Há uma admirável semelhança entre as predições entre a ruína de Samaria e a de Jerusalém (cp. 1.6 com 3.12). Alguns escritores gregos, e entre esses Epifânio, dizem que ele foi assassinado por Joás, filho de Acabe, confundindo-o com Micaías, o filho de Inlá (1 Rs 22.08-28). Os nomes são formas diferentes da mesma palavra. Crê-se que Micaías não sofreu o martírio, mas morreu em paz no reinado de Ezequias. Pelo que se lê em Jeremias 26. 8, 9, 18, 19, parece que o profeta Jeremias teria sido morto pelo fato de anunciar a destruição do templo, mas Miqueias havia predito a mesma coisa mais de cem anos antes. (Dicionário bíblico universal, pg. 291).
Sua mensagem profética ocorreu nos dias de Jotão (aprox.
742-735 a.C.), Acaz (aprox. 735-715 a.C.) e Ezequias (aprox. 715-687 a.C.),
reis de Judá, o que não o limita apenas a esse reinado (1.1), pois se dirigiu
também ao reino sul.
Segundo o dicionário Wycliffe, não resta dúvidas da
influência de Miqueias e Isaias sobre Ezequias, quando da reforma espiritual
ocorrida em seu reinado (veja Jr 26.18).
Miqueias era um homem capaz de grande simpatia pelos oprimidos e sensibilidade pelos sofrimentos de seus conterrâneos, e enfrentava a oposição com evidente coragem. Sua linguagem demonstra que deve ter sido um homem de grande força emocional e elevados ideais de moralidade.
Sobre o livro, o seu conteúdo pode ser dividido em quatro
seções principais, a saber:
(I) cap. 1º, os juízos de Deus sobre
Israel e Judá;
(II) caps. 2
e 3, prova da necessidade destes juízos;
(III) caps. 4 e 5, a promessa;
(IV) cap. 6, colóquio entre o senhor e
seu povo; cap. 7, epílogo: lamentações e esperança do profeta. Outras fontes dividem em três.
Utilizando-se de uma linguagem bastante clara, sua voz profética
anuncia a invasão de Salmaneser e Senaqueribe (1.6 e 16); a dispersão de Israel
(5.7,8); a cessão da profecia (3.6,7); a completa destruição de Jerusalém (3.12).
Ainda de forma nítida prediz o livramento de Israel, a terra
natal do rei messiânico, a promulgação do seu Evangelho desde o Monte Sião, os
seus resultados e a exaltação do reino do messias sobre todas as nações.
Pelos relatos obtidos no decorrer da leitura das profecias de
Miqueias, este grande homem se deparou com uma forte pedreira da qual nem todos
teriam coragem de desafiar, considerando que eram pessoas de elevada influência
no meio eclesiástico por intermédio dos príncipes, falsos profetas, sacerdotes iníquos
e juízes injustos. A mensagem é dirigida aos líderes, políticos e religiosos
pelo seu pleno desprezo ao que é justo e por estarem preocupados com o ganho
pessoal a todo custo.
Os seus chefes dão as sentenças por peitas, e os seus sacerdotes ensinam por interesse, e os seus profetas adivinham por dinheiro; e ainda se encostam ao Senhor, dizendo: Não está o Senhor no meio de nós? Nenhum mal nos sobrevirá. (Mq 3.11)
É notório que a indignação do profeta contra Israel e Judá não
é por acaso. Afinal de contas, o reinado encontrava-se submerso em uma infinidade
de ações que em nada agradavam ao Senhor. Desde os sacerdotes aos “profetas”,
todos viviam de enganar, subornar e mentir. Estes tiravam proveito da
ingenuidade do povo para os enganar da maneira mais covarde que se possa imaginar.
A gravidade dos fatos se justifica em razão de usarem o nome de Deus como forma
de intimidar suas vítimas. "Não está o Senhor no meio
de nós? Nenhum mal nos sobrevirá."
Shemá é o verbo hebraico usado para
obedecer, que também significa ouvir,
escutar, e prestar atenção. Este obedecer do qual trata Miquéias em nada
tem a ver com uma obediência cega, sem noção e desprovida de respaldo bíblico.
Muitos têm se aproveitado de textos como este, interpretado-o isoladamente para
fazer pressão psicológica nos incautos e com isto, de alguma forma tirar proveito . Observemos que o texto diz: “É
melhor obedecer do que sacrificar.” Fica subentendido aqui que entre o
sacrifício de tolo e o obedecer, melhor será que se obedeça. Todavia, não está afirmando que
devemos obedecer por obedecer, ou fazê-lo cegamente. Digo: não podemos e nem devemos agir
como se estivéssemos com uma venda nos olhos. Ainda que sejam pastores,
profetas, obreiros ou sacerdotes que nos mandem, precisamos ponderar se é pertinente ou não fazer o que se diz. Se não fosse assim, Paulo não
teria nos orientado a servir/cultuar com entendimento. (Rm 12.2).
A obediência, de acordo com o contexto bíblico não se trata de abuso de poder, por parte de quem ordena. Em nenhum momento vemos Deus ou os grandes homens usados por Ele, utilizando-se do autoritarismo para que se configurasse uma ação de obediência. Muito pelo contrário. Os maiores líderes da história bíblica conquistaram grandes êxitos porque tiveram ao seu lado pessoas que os obedeciam amorosamente em consequência de uma liderança também amorosa e respeitosa - Veja-se o exemplo de Salomão, Davi etc. Quem busca ser obedecido pela força não alcança nada mais do que uma manifestação de medo. Por sua vez, este gera o ódio e a subserviência. Tanto um quanto o outro são sentimentos que não se enquadram com os princípios cristocêntricos exarados pela palavra da cruz.
Precisamos estar cientes de que Deus não oprime a nenhum dos
seus servos, nem a ninguém. Quem assim o faz, certamente não passará batido ante os olhos
daquele que conhece as intenções do coração do homem. São muitos os que hoje se
comportam como nos dias de Miqueias. Exigem obediência incondicional. Usam a
expressão bíblica “ungidos de Deus” para oprimir, humilhar e saquear o povo sem
demonstrar sequer um pouco de sentimento humano. Como disse no comentário
anterior, confundem princípios cristãos com religiosidade. Os princípios nos
remetem à adoração plena, suave e reverente ao ser supremo. A religiosidade, ao
fanatismo e escravidão. Por causa da religiosidade muitos matam e morrem. Mas
de nada serve, porque Deus não quer sacrifícios de tolos.
Deus não mudou e nem mudará jamais. Através do profeta mostrou para
Judá e Israel que seus líderes e via de regra o povão estavam em perigo por
causa de seu comportamento com seus irmãos. Todavia, não deixa de revelar que
havia um escape para todos mediante seu arrependimento sincero.
Na condição de cristãos, não podemos abrir mão de exercermos
a justiça com quem quer que seja. Jesus nos advertiu um dia que “[...] se a vossa justiça não exceder a dos
escribas e fariseus, de modo nenhum entrareis no reino dos céus." Que o Senhor,
em sua infinita graça e bondade ajude-nos a viver de modo a contemplar o
coração de Deus, que é um ser amável, sem deixar de ser soberano. Que mesmo com
toda a sua glória, não se esquece dos humildes. Que possamos com nossas ações, de posse do privilégio que é sermos adoradores do Rei das nações, exalar o suave cheiro de Cristo para aromatizar os corações sedentos de paz e esperança.
Toda a honra, toda a glória sejam elevadas ao trono de sua majestade, O Rei dos Reis e Senhor dos senhores!
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Referências
PFEIFFER, Charles F; VOS, Howard F.; REA, John. Dicionário bíblico Wycliffe. Rio de Janeiro: CPAD, 2010.
SOARES, Ezequias. Jonas: A misericórdia divina. In...Os Doze Profetas Menores. Advertências e consolações para a santificação da Igreja de Cristo. Rio de Janeiro: CPAD, 2012.
Bíblia Sagrada. Versão Revista e Corrigida. São Paulo: Sociedade Bíblica do Brasil, 1995.
Disponível:www.google.com.br/imgres?q=obedecer&um=1&hl=pt-BR&sa=N&biw=1360&bih. Acesso:18/11/2012
Disponível:www.google.com.br/imgres?q=obedecer&um=1&hl=ptBR.Acesso:18/11/2012
EDITORA VIDA. Dicionário Bíblico Universal, 1996.
Disponível: www.baixaki.com.br/download/a-biblia-sagrada-versao-digital.htm.Acesso:02/11/2012
Toda a honra, toda a glória sejam elevadas ao trono de sua majestade, O Rei dos Reis e Senhor dos senhores!
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Referências
PFEIFFER, Charles F; VOS, Howard F.; REA, John. Dicionário bíblico Wycliffe. Rio de Janeiro: CPAD, 2010.
SOARES, Ezequias. Jonas: A misericórdia divina. In...Os Doze Profetas Menores. Advertências e consolações para a santificação da Igreja de Cristo. Rio de Janeiro: CPAD, 2012.
Bíblia Sagrada. Versão Revista e Corrigida. São Paulo: Sociedade Bíblica do Brasil, 1995.
Disponível:www.google.com.br/imgres?q=obedecer&um=1&hl=pt-BR&sa=N&biw=1360&bih. Acesso:18/11/2012
Disponível:www.google.com.br/imgres?q=obedecer&um=1&hl=ptBR.Acesso:18/11/2012
EDITORA VIDA. Dicionário Bíblico Universal, 1996.
Disponível: www.baixaki.com.br/download/a-biblia-sagrada-versao-digital.htm.Acesso:02/11/2012
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