A guarda do sábado segundo a Bíblia Sagrada.
Texto
Êxodo 20.8-11; 31.12-17.
Êxodo 20.8-11; 31.12-17.
Por: Edilson Moraes
Diversas são as interpretações acerca do mesmo. Enquanto os legalistas judeus defendem a guarda do sábado para todos, a exemplo dos sabatistas, veremos que grandes nomes que figuram no cenário bíblico entendem que esta ordenança seria apenas para a nação israelita.
O comentarista Esequias Soares, por exemplo, entende que se trata de uma necessidade universal que haja um dia de descanso após uma jornada de trabalho, mas salienta que o “sábado é um presente de Deus para Israel”. As abordagens feitas neste resumo, visam ajudar na compreensão da relação do sábado com a criação, a implantação do sábado institucional e legal, a guarda do sábado como preceito cerimonial e a revelação de Jesus como “Senhor do sábado”.
O SÁBADO DA CRIAÇÃO
O shabat é a base do sábado institucional e do sábado legal.
“Ora, havendo Deus completado no dia sétimo a obra que tinha feito, descansou nesse dia de toda a obra que fizera. Abençoou Deus o sétimo dia, e o santificou; porque nele descansou de toda a sua obra que criara e fizera” (Gn 2.2,3).
“Deus abençoou o sétimo dia (i.é., o sábado) e o destinou, tanto como dia sagrado e especial de repouso, como um memorial do término de todas as suas obras criadas. Deus, posteriormente, fez do sábado um dia de bênção para seu povo fiel (Êx 20.8). Reservou-o para ser um dia de descanso, de culto, adoração e comunhão com Ele [...]” (BEP, 1995, nota: Gn 2.3).
-A instituição do sábado legal (shabbat). “E ele lhes disse: Isto é o que o Senhor tem dito: Amanhã é repouso, sábado santo ao Senhor” (Êx 16.22,23).
Deus concluiu a criação no dia sétimo. Shabat, “cessar, desistir, descansar” (Gn 8.22; Jó 32.1; Ez 16.41).
-Não se trata de ociosidade (Is 40.28; Jo 5.17).
A bênção de Deus sobre o sétimo dia. Segundo WESTERMANN, "A santificação do sábado institui uma ordem para a humanidade segundo a qual o tempo é dividido em tempo e tempo sagrado... Por santificar o sétimo dia, Deus instituiu uma polaridade entre o dia a dia e o solene, entre dias de trabalho e dias de descanso, a qual deveria ser determinante para a existência humana" (WESTERMANN, citado em http://auxilioebd.blogspot.com.br).
De acordo com Santo Agostinho, “O sétimo dia, porém, não tem crepúsculo; não entardece porque o santificaste para que se prolongue eternamente. É o repouso de teu sétimo dia, depois de ter criado tantas e tão boas obras, embora sem te causar fadiga, a palavra de tua Escritura nos anuncia que também nós, depois de nossos trabalhos, que são bons porque assim nos o concedeste, encontraremos o repouso em ti, no sábado da vida eterna” (Confissões, Santo Agostinho. Livro XIII, Cap. 36).
-Ver: Hb 4.9.
O SÁBADO INSTITUCIONAL
Desde a criação, “É a ordem natural das coisas: os campos precisam de repouso, as máquinas necessitam parar para manutenção e assim por diante” (Soares).
“mas no sétimo ano haverá sábado de descanso solene para a terra, um sábado ao Senhor; não semearás o teu campo, nem podarás a tua vinha” (Lv 25.4).
Na definição de Pfeiffer, “O sétimo ano deveria ser um ano sabático [...]. Os campos deveriam repousar e não ser cultivados [...], assim como as dívidas dos companheiros israelitas deveriam ser perdoadas” (Pfeiffer e tal, 2010, 1710).
“Deus sabia, desde o início, que se o povo deixasse de observar o sábado, esgotaria suas forças físicas e mentais, face às constantes preocupações e atividades desta vida. Tal falha os faria relegar a segundo plano em suas vidas, as coisas espirituais e divinas” (BEP, 19995, p. 140, nota: Êx 16.30).
Não era mandamento. Deus abençoou e santificou esse dia não somente para comemorar a obra da criação mas para que, nesse dia, todos cessem o trabalho e assim descansem física e mentalmente para oferecer o seu culto de adoração a Deus” (Soares).
Os patriarcas não guardaram o sábado. “Segundo *Justino, o Mártir, Abraão e seus descentes até o Sinai agradaram a Deus sem o sábado (Diálogo com Trifão 19.5). *Irineu de Lião diz que Abraão, "sem circuncisão e sem observância do sábado, 'acreditou em Deus e lhe foi imputado a justiça e foi chamado amigo de Deus” (citado por Soares).
*Justino, o Mártir: “Flávio Justino nasceu no primeiro decênio do séc. II em Flávia Neápolis, a antiga Siquém, atual Nablus, na Palestina. Filho de pais pagãos, frequentou as diversas escolas filosóficas de estóicos, peripatéticos e pitagóricos. Depois de ter professado durante longo tempo as doutrinas dos platônicos, converteu-se ao cristianismo. Viveu muito tempo em Roma, onde fundou uma escola e onde sofreu também o martírio entre os anos 163-167.
De Justino conservam-se três obras autênticas: O Diálogo com o judeu Trifão e I e II Apologia. A primeira e mais importante delas é dirigida ao imperador Antonino Pio e deve ter sido escrita entre os anos 150-155.
A segunda, que vem a ser um apêndice da primeira, foi motivada pela morte de três cristãos, réus por se professarem tais. O Diálogo com o judeu Trifão apresenta uma discussão ocorrida em Éfeso entre Justino e Trifão, e quer demonstrar que a pregação de Cristo realiza e completa os ensinamentos do AT” (citado em http://eusebiodecesareia.blogspot.com.br/2012/09/justino-martir.html).
*Irineu de Lião: “Bispo de Lião (a atual cidade de Lyon, França). Não se sabe quando nasceu. Alguns defendem que tenha nascido entre 115 e 125 d.C., outros entre 130 e 142 a.C. O que se sabe, é que nasceu na Ásia menor, talvez próximo de Esmirna, onde desde de jovem, conviveu com o bispo Policarpo [...].
Por isto, Ireneu tem grande estima por Policarpo, e provavelmente suas repetidas menções ao "presbítero" (ancião) se refiram a Policarpo. Policarpo havia sido discípulo de João, como atesta Eusébio, Papias e o próprio Ireneu. Isto ajudaria Ireneu, futuramente, a desmascarar os gnósticos que afirmavam ter recebido ensinos secretos do apóstolo João” (http://www.e-cristianismo.com.br/pt/biografias/48-vida-e-obra-de-ireneu-de-liao).
“O apóstolo Paulo, judeu, doutor da Lei e guardador do sábado, em Gálatas 3.17, escreve que a Lei só veio 430 anos (depois de Abraão), sendo assim, o sábado só passou a ser instruído e guardado pelos hebreus após a saída do Egito e isso pode ser conferido a partir do capítulo 16 de Êxodo que mostra claramente as primeiras instruções sobre o dia judaico”. (citado em http://auxilioebd.blogspot.com.br).
O SÁBADO LEGAL
O significado. “É o sétimo dia da semana no calendário judaico, marcado no mundo pela Lei. É o sábado legal dado aos israelitas no Sinai – Êx 31.13-17” (Soares).
“Esses versículos retratam o sábado como um sinal da aliança entre Deus e Israel; Isso é importante, pois é repetido duas vezes. É difícil enxergar, no entanto, como a separação e guarda do sábado como dia sagrado pode ser aplicada a outras nações.
Ao contrário, era a observância do sábado que diferenciava Israel das outras nações, da mesma forma como a circuncisão mantinha os judeus à parte” (Boice, 2011, p. 204).
Ao contrário, era a observância do sábado que diferenciava Israel das outras nações, da mesma forma como a circuncisão mantinha os judeus à parte” (Boice, 2011, p. 204).
-Gn 17.11: “Circuncidar-vos-eis na carne do prepúcio; e isto será por sinal de pacto entre mim e vós”.
O sábado do decálogo. -Êx 20.8: “Lembra-te do dia do sábado, para o santificar”.
“O dia do Senhor no AT era o sétimo dia da semana. Santificar aquele dia importava em separá-lo como um dia diferente dos demais, cessando o labor para descansar, servir a Deus e concentrar-se nas coisas respeitantes à eternidade, à vida espiritual e à glória de Deus. (1) A observância do dia do Senhor por Israel era um sinal de que ele pertencia a Deus. (2) Lembrava-lhes o seu livramento da escravidão do Egito” (BEP, 1995, p. 148, nota: Êx 20.8).
-Aparece na promulgação da lei (Êx 20.11).
-Não reaparece em (Dt 5.12-15).
Propósito.
-Social e espiritual.
“O dia do Senhor no AT era o sétimo dia da semana. Santificar aquele dia importava em separá-lo como um dia diferente dos demais, cessando o labor para descansar, servir a Deus e concentrar-se nas coisas respeitantes à eternidade, à vida espiritual e à glória de Deus. (1) A observância do dia do Senhor por Israel era um sinal de que ele pertencia a Deus. (2) Lembrava-lhes o seu livramento da escravidão do Egito” (BEP, 1995, p. 148, nota: Êx 20.8).
-É um memorial da libertação do Egito (Dt 5.15; Êx 31.13,17).
UM PRECEITO CERIMONIAL
O sacerdote no Templo.
-O sábado, um preceito cerimonial na mesma categoria dos pães da proposição (MT 12.2-4).
Veja-se: Êx 29.33; Lv 22.10; 1 Sm 21.6.
-A inimputabilidade de culpa ao sacerdote (Mt 12.5).
A circuncisão no sábado. Por ser um preceito moral, a circuncisão está acima do sábado (Jo 7.22,23; Lv 12.3).
O SENHOR DO SÁBADO
O sábado e a tradição dos anciãos. “Jesus nunca ab-rogou o princípio de um dia de descanso para o homem. O que Ele reprovou foi o abuso dos líderes judaicos quanto à guarda do sábado (BEP, 1995, p. 1410, nota: Mt 12.1).
Mt 12.12; Mc 3.1-5; Lc 13.10-13; 14.1-6;
Jesus é o Senhor do sábado (Mc 2.28). Mc 2.27, 28: “[...] O sábado foi feito por causa do homem, e não o homem por causa do sábado. Pelo que o Filho do homem até do sábado é Senhor”.
Dia do culto cristão. “Os cristãos observam o domingo como dia de repouso pessoal e adoração ao Senhor. É o dia em que Jesus ressurgiu dentre os mortos, sendo chamado em o NT de “o dia do Senhor”. Uma vez que o cristão não é mais obrigado a observar o sábado judaico, ele tem fortes razões bíblicas para dedicar um dia, em sete, para seu repouso e adoração a Deus” (BEP, 1995, p. 1410, nota: Mt 12.1).
-Os dois primeiros cultos cristão (Jo 20.19, 26);
-A ressurreição do Senhor (Mc 16.16);
-Instituição do dia do senhor sem decreto, pelos primeiros cristãos desde os tempos apostólicos:
-At 20.7: “No primeiro dia da semana, tendo-nos reunido a fim de partir o pão, Paulo, que havia de sair no dia seguinte, falava com eles, e prolongou o seu discurso até a meia-noite”.
-1 Co 16.2: “No primeiro dia da semana cada um de vós ponha de parte o que puder, conforme tiver prosperado, guardando-o, para que se não façam coletas quando eu chegar”.
-Ap 10.10: “Eu fui arrebatado em espírito no dia do Senhor, e ouvi por detrás de mim uma grande voz, como de trombeta[...]”.
-Cl 2.16,17: “Ninguém, pois, vos julgue pelo comer, ou pelo beber, ou por causa de dias de festa, ou de lua nova, ou de sábados, que são sombras das coisas vindouras; mas o corpo é de Cristo”.
-Hb 8.13: “Dizendo: Novo pacto, ele tornou antiquado o primeiro. E o que se torna antiquado e envelhece, perto está de desaparecer”.
Por fim, não estamos mais debaixo da lei mosaica. O sábado cristão é um dia de bênção concedido pelo Senhor, para que possamos desfrutar do descanso após um período de labor e ao mesmo tempo podermos elevar ao seu nome a nossa adoração e gratidão por seus feitos em nós e por nós.
Mesmo porque, caso fôssemos obrigados a guardar o sábado necessário seria ter que cumprir todas as outras obrigações legais instituídas por Moisés a exemplo dos sacrifícios.
Como Cristo foi o sacrifício perfeito, oferecido uma única vez por nós que o recebemos pela fé e fomos alcançados pela graça, tendo ele mesmo cumprido toda a Lei, tirou de nós esta obrigatoriedade de seguirmos os ritos mosaicos. Apenas temos como "sombra das coisas futuras", conforme registra o autor aos hebreus.
Mesmo porque, caso fôssemos obrigados a guardar o sábado necessário seria ter que cumprir todas as outras obrigações legais instituídas por Moisés a exemplo dos sacrifícios.
Como Cristo foi o sacrifício perfeito, oferecido uma única vez por nós que o recebemos pela fé e fomos alcançados pela graça, tendo ele mesmo cumprido toda a Lei, tirou de nós esta obrigatoriedade de seguirmos os ritos mosaicos. Apenas temos como "sombra das coisas futuras", conforme registra o autor aos hebreus.
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Referências bibliográficas:
BÍBLIA DIGITAL ELETRÔNICA VERSÃO 3.8.0.
BÍBLIA DE ESTUDO PENTECOSTAL. CPAD, 1995, nota Gn 2.3.
6 Ibidem, nota: Êx 16.30.
16 Ibidem, p. 148, nota: Êx 20.8.
17 Ibidem, p. 148, nota: Êx 20.8
18 Ibidem, p. 1410, nota: Mt 12.1.
19 Ibidem, p. 1410, nota: Mt 12.1
BOICE, James Montegomery. Fundamentos da fé cristã. Rio de janeiro: Central Gospel, 2011, p. 240.
Santo Agostinho. Confissões, Livro XIII, Cap. 36.
Lições Bíblicas 1° Trimestre – 2015
PFEIFFER, Charles F; Vos, Howard F; Rea, John. Dicionário Bíblico Wycliffe. Rio de Janeiro: CPAD, 2010, p. 204.
Disponível em: http://auxilioebd.blogspot.com.br/2015/01/1trim2015licao-5-nao-tomaras-o-nome-do.html. Acesso em: 04 fev, 2015.
3 Ibidem.
12 Ibidem.
Disponível em: <http://eusebiodecesareia.blogspot.com.br/2012/09/justino-martir.html>. Acesso em: 04 fev, 2014.
Disponível em: <http://www.e-cristianismo.com.br/pt/biografias/48-vida-e-obra-de-ireneu-de-liao>. Acesso em: 04 fev, 2014.
SOARES, Esequias. Os Dez Mandamentos. Lições Bíblicas Professor 1º Trim. 2015, CPAD. Santo Agostinho. Confissões Livro XIII, Cap. 36.
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