Mariana Iwakura
A Bíblia está na base da cultura
ocidental. É tão importante que, no século 15, foi escolhida para estrear a
prensa de tipos móveis, desenvolvida por Gutenberg, e se tornou o primeiro
livro impresso na história. E esse é só um detalhe de sua influência no mundo.
Sem a Bíblia, as três principais
religiões monoteístas de hoje – cristianismo, judaísmo e islamismo – não
existiriam. O culto a um deus único se espalhou com a confecção dos livros que
deram origem à Torá e ao Antigo Testamento, ainda no século 7 a.C. No entanto,
foi com o Novo Testamento que essa idéia triunfou. "O cristianismo minou
completamente a crença em diversos deuses", diz o historiador André
Chevitarese, da UFRJ. "Sem ele, o mundo continuaria a dar grande importância
à religião, mas seria politeísta."
Chevitarese acredita que, sem o
cristianismo, as tradições das colônias americanas também estariam melhor
preservadas. "No politeísmo, há mais tolerância entre diferenças
religiosas", afirma. Para ele, os europeus teriam explorado o continente
economicamente, mas respeitando a cultura e a religião indígenas, da mesma
maneira que, no século 2 a.C, o império romano assimilou os deuses gregos (Zeus
virou Júpiter, por exemplo).
Outra possível diferença seria o
avanço do conhecimento científico. "O cristianismo passou a ver as
descobertas da ciência como um desafio a Deus e inibiu muitas delas", diz
Chevitarese. O astrônomo Galileu Galilei, por exemplo, foi obrigado a se
retratar perante a Igreja Católica, no século 17, por ter dito que a Terra
girava em torno do Sol. "Teríamos uma astronomia muito mais avançada hoje,
se a Igreja não tivesse condenado os estudos do universo desde o século
4", diz o historiador. Sem esse empecilho, é possível que os planos dos
cientistas de hoje para colonizar a Lua já tivessem sido implementados e que
celebrações no solo do satélite fossem comuns.
Orientalismo
A divisão entre Ocidente e Oriente,
criada pela visão européia e cristã do "nós" versus "eles",
não existiria. Com isso, é possível que valores e práticas da medicina oriental
estivessem mais presentes na nossa vida
Deuses Diversos
Num mundo politeísta, as práticas
religiosas seriam bem diversificadas. E todas seriam respeitadas. Uma divindade
como a Lua, por exemplo, poderia ser adorada por diferentes pessoas, de várias
maneiras. E, nas Américas, as imagens não seriam, como são hoje, inspiradas na
estética greco-romana. Teríamos uma grande influência da cultura indígena
pré-colonização
Feliz Natal
A data tida como a do nascimento de
Jesus foi uma apropriação que o cristianismo fez de uma festa antiga, dedicada
ao deus Mitra, popular na Pérsia e na Roma antiga. Ou seja, mesmo sem a Bíblia
faríamos grandes celebrações no dia 25 de dezembro, que não seriam mais
importantes que as festas de outros deuses
Elite e servos
A Bíblia pregou a noção de que o
trabalho engrandece o homem diante de Deus. Sem ela, a relação com o trabalho
continuaria como na Antiguidade: à elite, caberia o trabalho intelectual. Ao
resto, o trabalho manual
Os clones
A idéia cristã de que o ser humano é
resultado da ação divina – e, portanto, a visão de que mexer com a vida é
colocar-se contra Deus – impediram diversos avanços da ciência. Sem a Bíblia, é
possível que não houvesse sequer oposição a pesquisas com células-tronco,
aborto e clonagem
Coisa de macho
É possível que sexo entre homens
fosse bem aceito entre as elites, como acontecia na Grécia antiga. No entanto,
como os cultos politeístas antigos preteriam mulheres, casais femininos seriam
censurados
Referência:
Mariana Iwakura. E se... a Bíblia não tivesse sido escrita? Disponível em: <http://super.abril.com.br/superarquivo/2005/conteudo_382598.shtml>.
Acesso em: 27 de jan. 2014.
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